Silêncio no Estácio
Carlos Melo
04/08/2017 18h17
"Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio…"
Na minha opinião, um dos mais belos versos da música brasileira.
O Brasil tem se empobrecido muito: seja por aquilo que perde, como por aquilo que "ganha"(será que é ganho?); por aqueles que se vão e por aquilo que surge. "Nossa, nossa, assim você me mata…" ai, ai, ai…
Ao lado de Paulinho da Viola, Luiz Melodia foi, para mim, um herdeiro de Cartola. A mesma elegância e a mesma sensibilidade que brotam dos morros, na confluência do Rio de Janeiro pobre e rico, preto e branco.
O diabo é que não conseguimos mais fazer esse tipo de "reposição", que antes, à parte de toda dor, parecia natural. O espelho que era belo, mas era vidro e se quebrou.
Hoje, a perda se combina com a queda de qualidade; caminhamos para o vazio.
Quem ou o quê tem roubado a nossa alma?
A humanidade não gera Melodias, assim, a torto e a direito. O Brasil já foi capaz de produzir jóias desse naipe, mas hoje… Por isso, a perda dói muito mais.
… E o Estácio NÃO mais acalma o sentido dos erros que faço… Fico manso, mas NÃO mais amanso a dor. Não há dias de paz.
Vai, Melodia
Sobre o Autor
Carlos Melo é paulistano, filho de açorianos e nasceu em 1965. Cientista político, com graduação, mestrado e doutorado na PUC-SP. Professor de tempo integral do Insper desde 1999; colecionou experiências, conquistou prêmios de ensino. Analista político, com colaboração em vários meios de comunicação; palestrante e consultor. Autor de "Collor, o ator e suas circunstâncias".
Sobre o Blog
Juízos de valor não importam, o leitor que construa os seus. O que se busca é a compreensão, sem certezas, nem verdades; antes, a reflexão. É o canto de um homem sem medo de exalar dúvidas. "Nem o riso, nem a lágrima; apenas o entendimento", diz Spinoza; "eu quase de nada sei, mas desconfio de muita coisa", arremata Guimarães Rosa.